"A
cegueira espiritual é semelhante à tentativa de discernir a tridimensionalidade
do mundo a partir de uma fotografia"
.“Você não me
conhece, Filipe, mesmo depois de eu ter estado com vocês durante tanto tempo? Quem
me vê, vê o Pai. Como você pode dizer: ‘Mostra-nos o Pai’?” (Jo 14.9, NVI). É de
conhecimento comum que os descrentes sofrem de uma cegueira espiritual induzida
pelo “deus deste mundo” (2Co 4.4). Mas essas palavras de Jesus revelam a
possibilidade de estar com Cristo sem conhecê-lo.
Deve
ser comparável ao galho na Videira (Cristo) que não produz fruto;
conseqüentemente, sofre a desgraça da remoção e ser lançado no fogo.Os
deficientes visuais sabem que são distintos dos outros que gozam da visão boa.
Os tristes seres humanos, aflitos com cegueira física, reconhecem seu
isolamento num mundo escuro. Podem tentar imaginar este belíssimo mundo,
invisível para eles, exuberante e com vivas cores, vistas empolgantes de
montanhas, rios, oceanos e rostos expressivos. Temos pena dos que nunca tiveram
a oportunidade de se deliciar com a vista perfeita.
Mas deficiência física é muito menos
sério do que a cegueira espiritual. A escuridão condena todos os que não têm fé
a concluir que o mundo físico é tudo que há. A glória do Criador se percebe
pela fé, de modo que todos os sinais da glória e da majestade do seu poder e
inteligência inseridos neste mundo se perdem na cegueira do materialista.
C.S. Lewis comparou a tentativa de
comunicar a existência do mundo espiritual a um incrédulo a uma criatura que em
toda sua vida experimentou apenas duas dimensões. Alguém que tenta explicar as
três dimensões do mundo real por uma fotografia acha que o triângulo é um
caminho e outro triângulo, uma montanha. O indivíduo limitado às duas dimensões
fracassa completamente ao tentar compreender a realidade que a fotografia
representa. Como um cão que fareja o dedo da pessoa apontando um suculento
pedaço de carne, em vez de virar a cabeça, o homem preso à compreensão
materialista do mundo acha que toda essa realidade de Deus, salvação e Céu não
passam de imaginação fértil do crente.
Mais complexo é o caso do cristão com
olhos abertos, mas incapaz de ver. Paulo ora pelos efésios, rogando a Deus pela
iluminação dos olhos a fim de que eles “conheçam a esperança à qual ele os
chamou”. Escreveu John H. Newman: “Abençoados aqueles que finalmente verão
aquilo que olho mortal não tem visto e somente a fé goza. Aquelas coisas
maravilhosas do novo mundo já existem agora como serão então. São imortais e
eternos; e as almas que então serão feitos conscientes delas, as verão em sua
tranqüilidade e majestade aonde nunca chegaram.
Mas quem é capaz de expressar a
surpresa e o arrebatamento que descerão sobre aqueles que finalmente os
conhecerão pela primeira vez? Quem pode imaginar, por uma extensão da
imaginação, os sentimentos daqueles que, tendo morrido na fé, acordam para
júbilo? A vida, então iniciada, durará para sempre; porém, se a memória for
para nós então o que é para nós agora, aquele dia será um dia para ser muito
celebrado para o Senhor durante todas as eras da eternidade” (Dia 153, Diary of
Readings, ed. J.Ballie, 1955).
A falta de ver essa gloriosa realidade
escatológica torna esta vida uma cena de competição, ambição e desespero.
Crentes se desviam por falta de visão do futuro que não vêem e nem imaginam.
Faltando iluminação nos olhos espirituais, ficam presos ao mundo material
temporário.
Transferem os valores do Céu para a
Terra e interpretam a prosperidade em termos financeiros e passageiros. Seguir
a recomendação de Jesus parece loucura. “Não acumulem para vocês tesouros na
Terra, onde a traça e a ferrugem destroem, e onde os ladrões arrombam e
furtam”, em vez de acumular tesouros nos céus. Isto faz sentido somente para quem
tem uma visão clara da realidade além deste mundo material.
A Deus toda a glória!
Russell P. Shedd é PhD em Novo
Testamento pela Universidade de Edimburgo (Escócia). Fundou a Edições Vida Nova
há mais de 40 anos e atualmente é consultor da Shedd Publicações. É missionário
da Missão Batista Conservadora no Sul do Brasil e trabalha em terras
brasileiras há vários décadas. Lecionou na Faculdade Teológica Batista de São
Paulo e viaja pelo Brasil e exterior participando de conferências em
congressos, igrejas, seminários e faculdades de Teologia. É autor de vários
livros, entre os quais estão A Justiça Social e a Interpretação da Bíblia,
Disciplina na Igreja, A Escatologia do Novo Testamento, A Solidariedade da
Raça, Justificação, A Oração e o Preparo de líderes cristãos, Fundamentos
Bíblicos da Evangelização, Teologia do Desperdício, Criação e Graça: reflexão
sobre as revelações de Deus, todos publicados pelas Edições Vida Nova ou pela
Shedd Publicações. Além disso, é autor dos comentários da Bíblia Shedd (Vida
Nova).
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