Eclesiastes
10. Eu vou ler o versículo primeiro. Peço-lhes por favor que se coloquem em pé,
para ouvirem a leitura de Eclesiastes 10:1. Se estiver com dificuldade vá lá no
meio da Bíblia, que abre em Salmos, aí anda um pouquinho, Salmos, Provérbios e
Eclesiastes. Vou ler apenas o versículo primeiro do Capítulo 10.
1. Qual a mosca morta faz o
unguento do perfumador exalar mau cheiro, assim é para a sabedoria e a honra um
pouco de estultícia.
Parece que o
perfume é uma das artes tão antigas como a humanidade. Alguém dirá que é coisa
mundana. Que o que importa é a beleza interior e o bom cheiro interior e que os
crentes não deveriam se preocupar com seu aspecto externo, que isso seria
mundanismo. Mas parece que o próprio Deus gosta de perfume. Pelo menos, quando
lemos em Gênesis 8:21, nós encontramos esta declaração. E o Senhor aspirou o
suave cheiro e disse consigo mesmo: Não tornarei a amaldiçoar a terra. Quando
chegamos no livro de Êxodo e vemos os preparativos para o Tabernáculo, a
instituição dos sacrifícios, descobrimos que o próprio Deus pediu perfume. E
lemos isto em Êxodo 30:25. Disto farás o óleo sagrado para a unção, o perfume
composto segundo a arte do perfumista. Esse será o óleo sagrado da unção. Deus
também pôs o perfume na natureza. Coisa bonita uma flor cheirosa. O cheiro de
certas árvores: do eucalipto, do pinus. Certas fêmeas, na época do cio, exalam
um perfume, para atrair o macho. Cães e gatos reservam seu território com o
cheiro da urina. É por isso que o cachorro vai lá cheirar o poste, para saber
quem é o dono daquele território. Nós tínhamos um gato lá em Belém, Kirkegaard,
que era um gato siamês muito sensível: cada vez que chegava uma visita ele
ficava meio apavorado, era muito medroso e ele ía demarcar a casa com a sua
urina. Foi assim que a Meacir perdeu alguns pares de sapato, por que ele
entrava no closed e escolhia os sapatos dela.
O mau cheiro
desagrada. Já tiveram a oportunidade de fazer uma longa viagem de ônibus com
alguém que esqueceu de um banho? O bom cheiro agrada. E o nosso texto fala
disto: de uma arte antiga em Israel, perfumista. Ele está lá, com um recipiente
grande de perfume. Caiu uma mosca. Uma pequena mosca lá, na sua bacia, na sua
panela de perfume. Mas ele não viu. O perfume tem que ficar um certo tempo e
ele saiu, a mosca caiu, apodreceu e a pequena mosca estragou toda a panela de
perfume. Interessante: uma coisa tão pequena cai, em algo grande, maior, e
acaba todo o odor. E, na realidade, a decomposição da mosca, faz com que o
perfume perca todo o seu efeito. Interessante. Observaram, na realidade, o que
está por trás do texto? O pequeno, estraga o grande. O menor, acaba com o
maior. O desagradável extingue o agradável. É o problema da mosca no perfume.
Quando eu li este texto eu fiquei pensando em quantas vezes nós temos moscas no
nosso perfume. E quantas Igrejas não são seriamente prejudicadas por uma
pequenina mosca que cai num recipiente de perfume. E quantas vidas também, não
são arruinadas, porque uma pequena mosca pousa sobre aquele perfume e acaba com
ele para sempre. Então me vieram à mente duas idéias com base nisto que eu
gostaria de repartir com os irmãos nesta manhã.
A primeira
idéia é esta: o poder das pequenas
coisas que não prestam. Quem é que presta atenção numa mosca morta? Um
animal morto, um cavalo, um cachorro, ainda chama mais a atenção, mas uma mosca
morta, quem presta atenção numa mosca morta? Para que serve, pequena e
imprestável. Mas só que esta pequena mosca, dentro do vasilhame de perfume,
estragou o muito. As pequenas coisas, esta é a lição, causam grandes efeitos. E
é isso é que o autor diz logo à frente: assim é para a sabedoria e a honra um
pouco de estultícia. Estultícia é uma dessas palavras que nós lemos, vemos, e
às vezes não descobrimos o sentido. Assim é para a sabedoria e para a honra um
pouco de loucura, de insensatez. A pessoa tem uma vida inteira de honra e de
dignidade, ela tem um balde de dignidade mas uma mosca, uma pequena mosca de
insensatez, arruina toda sua honra e toda a sua dignidade. A palavra traduzida
por estultícia, é o termo hebraico seckel,
que significa tolice, futilidade, leviandade. A pessoa tem uma vida pautada por
honra e dignidade, toda a sua existência, mas por vezes cinco minutos de
tolice, só cinco minutos de tolice são suficientes para arruinar a sua vida
para todo o sempre. E é impressionante isto: podemos educar um filho por vinte
anos, e cinco minutos de conversa com um traficante num banheiro de colégio
porão abaixo os vinte anos de educação. Eduque uma moça dezoito anos e cinco
minutos de conversa com um sujeito ladino, poderão jogar os dezoito anos fora.
Como é que um pouquinho, uma mosquinha só de tolice, de insensatez, pode
arruinar uma vida inteira de dignidade. Vejam só o relato de um homem que é
mostrado na Bíblia como um dos grandes reis de Israel. Como este homem teve um
pouquinho só de tolice e como este pouquinho de tolice acabou com a sua vida.
No segundo livro dos Reis, no capítulo vinte, queiram ir lá nas suas Bíblias,
nós encontramos este episódio na vida do rei Ezequias. II Reis, Capítulo 20.
Então começa a leitura assim:
II Reis
20:12:
12. Nesse tempo, Merodaque-Baladã
filho de Baladã, rei de Babilônia, enviou cartas e um presente a Ezequias,
porque soube que estivera doente.
13. Ezequias se agradou dos
mensageiros e lhes mostrou toda a casa do seu tesouro, a prata, o ouro, as
especiarias, os óleos finos, o seu arsenal e tudo quanto se achava nos seus
tesouros; nenhuma coisa houve, nem em sua casa, nem em todo o seu domínio, que
Ezequias não lhes mostrasse.
14. Então Isaías, o profeta, veio
ao rei Ezequias e lhe disse: Que foi que aqueles homens dizzeram e donde vieram
a ti? Respondeu Ezequias: Duma terra longínqua vieram, de Babilônia.
15. Perguntou ele: que viram em tua
casa? Respondeu Ezequias: Viram tudo quanto há em minha casa; coisa nenhuma há
nos meus tesouros que eu não lhes mostrasse.
16. Então disse Isaías a Ezequias:
Ouve a palavra do Senhor:
17. Eis que virão dias em que tudo
quanto houver em tua casa, com o que entesouraram teus pais até ao dia de hoje,
será levado para Babilônia; não ficará coisa alguma, disse o Senhor.
18. Dos teus próprios filhos, que
tu gerares, tomarão, para que sejam eunucos no palácio do rei de Babilônia.
E
aí Ezequias reconhece a tolice que fez.
19. Então disse Ezequias a Isaías:
Boa é a palavra do Senhor que disseste. Pois pensava: Haverá paz e segurança em
meus dias.
Ele recebe o
inimigo, ele hospeda o inimigo. Põe o inimigo dentro da sua casa e abre a
guarda. Mostra tudo que tem para o inimigo. E Ezequias não sabia que estava
cavando sua própria ruína. Vaidade. Ostentação. A Babilônia é rica? Eu também
sou rico, eu também tenho coisas para mostrar. E não atinou que ele estava
simplesmente despertando a cobiça dos seus adversários. Que tolice! Um homem
sábio, justo, temente a Deus, tolo. Um momento só de tolice pode estragar toda
uma vida. Irmãos, para nós fica uma advertência muito grande que eu gostaria
que os irmãos entesourassem no coração. Porque um púlpito não trás apenas
ânimo. Precisa trazer admoestação. Por vezes nós arruinamos a nossa vida por
uma ninharia. Quanto casamento não foi destruído por cinco minutos de tolice.
Quanto moço e quanta moça não se arrependeu para o resto da sua vida de cinco
minutos de seckel, de tolice. Quanto
perfume jogado fora, por causa de uma pequena mosca. Cuidado com as pequenas
coisas. Cuidado com o que se lê. Cuidado com o que se fala. Cuidado com o tipo
de conversação que se alimenta. Cuidado com certas amizades que deveriam ser
cortadas logo no início. Quando se vê que não tem futuro nenhum. O poder das
pequenas coisas que não prestam. Uma pequena mosca, insignificante, acaba com
todo um vasilhame de perfume e para sempre. Esta foi a primeira idéia: o poder
das pequenas coisas que não prestam.
Segunda: a influência do que não presta sobre o que
presta. Não é a mosca que fica perfumada, é o perfume que fica pútrido, é o
perfume que apodrece. É o pequeno que estraga o grande. Não se tira de lá uma
mosca que, olha só, pode até pendurar a mosca e fazer um colar porque é um
perfume extraordinário. Não. O perfume ficou invalidado. A mosca apodrece e com
ela apodrece o perfume. O poder do mal é terrível. Já notaram, nós não pegamos
saúde de alguém. Fique do lado de um sarado, desses malhadores de academia,
você não vai ficar forte. Mas fique do lado de uma pessoa que está fungando e
espirrando o tempo todo, você ficará gripado. Saúde nós não pegamos dos outros,
mas imediatamente pegamos doença dos outros. É incrível a capacidade do mal.
Queria lhes ler primeiro um texto em Ageu, capítulo 2 versículos 11 e 12.
11. Assim diz o Senhor dos
exércitos: Pergunta agora aos sacerdotes a respeito da lei:
12. Se alguém leva carne santa na
orla de sua veste e ela vier a tocar no pão, ou no cozinhado, ou no vinho, ou
no azeite, ou em qualquer outro mantimento, ficará este santificado?
Responderam os sacerdotes: Não.
Lá
vinha o sacerdote carregando uma coisa santa, lá na sua batina e ela esbarrava
numa coisa mundana. Aquela coisa mundana que foi tocada pela coisa santa não se
tornou santa, ela continuou mundana. Então perguntou Ageu no versículo 13
13. Se alguém, que se tinha tornado
impuro pelo contato com o um corpo morto, tocar nalguma destas cousas, ficará
ela imunda? Responderam os sacerdotes: Ficará imunda.
Ou seja,
tocou em alguma coisa que não presta ficará imprestável. Tendo dito isto vou
ler um trecho de um amigo meu, Ageu nosso Contemporâneo.
Qual é o ensino transmitido nas
perguntas de Ageu cujas respostas ele evidentemente, como alguém do templo,
sabia? É muito fácil transmitir corrupção do que santidade. Pode-se apanhar um
resfriado pelo contato com quem o tenha mas é impossível adquirir a saúde de
outrem. Na esfera moral e espiritual ensinam as escrituras que o pecado de Adão
contaminou toda a raça humana mas os pais crentes não podem transmitir aos
filhos a sua condição de salvos, ou seja, Deus tem filhos mas não tem netos.
Semelhantemente ao que se dá com a enfermidade do corpo o pecado também é
contagioso e muito mais do que elas é melhos fugir de toda a forma do mal.
A influência
do que não presta sobre o que presta. Fugir do mal , fugir do erro, fugir do
pecado não é covardia. Ah! Eu sei os meus limites. Eu sei até onde eu posso ir.
Todas as pessoas que um dia caíram sabiam os limites das suas forças, sabiam
até onde podiam ir, sabiam o que podiam fazer e o que não podia, e depois não
conseguiram. Quando Cramwell era primeiro ministro da Inglaterra, conta ele em
suas memórias, foi a um circo e viu um indivíduo que havia domado uma serpente.
Ele começara a domar aquela serpente quando era da espessura de um dedo e a
vinha domando há anos. A serpente se enroscava ao redor do seu corpo a uma
ordem sua e depois se desenroscava. Mas diz Cramwell que a uma certa hora os
assistentes começaram a descobrir que alguma coisas estava errada, que a
serpente não se desenroscou, e notaram que ele estava com dificuldade para
respirar , e a serpente foi apertando, apertando e pouco a pouco o auditório
ouviu o barulho de ossos serem quebrados e a serpente o matou. Ele pensou que a
tivesse sob o domínio e que ele obedeceria as suas ordens a qualquer momento.
Ele a tinha sob controle desde quando era da espessura de um dedo e poderia
então tê-la apertado e matado, mas ele a alimento, brincou com ela,
compartilhou a sua vida com ela, até que por fim ela o matou. Muitos de nós
brincamos com situações irregulares em nossa vida, fazemos concessões em
relacionamentos, em práticas, em atitudes e na área moral, brincamos com coisas
que sabemos são daninhas a nossa vida e julgamos que a qualquer momento podemos
nos livrar daquilo, e um dia, surpresos, descobrimos que não tem mais a
espessura de um dedo e que não podemos mais esmagar em nossas mãos mas aquilo
nos dominou. Principalmente você que é moço e adolescente, e nós os maduros
também. Nenhum de nós é forte. Cuidado com o que lê, cuidado com o lugar por
onde navega na internet, cuidado com os pensamentos, cuidados com más
companhias, cuidado com as pequenas coisas que estragam a vida. A mosca morta
estraga o ungüento do perfumista.
Mas há uma
outra questão, para não terminar tão negativamente, que eu julgo necessário
abordar. Assim como Deus gosta de perfume, pôs perfume na natureza, pediu
perfume no culto, nós somos chamados também de perfume. II Coríntios 2:15
Porque nós somos para com Deus
o bom perfume de Cristo, tanto nos que são salvos, como nos que se perdem.
Nós somos o
bom perfume de Cristo tanto na igreja como lá fora, diz Paulo em II Cor. 2:15 e
uma pergunta que deve encerrar a nossa consideração nessa manhã. Que tipo de
perfume somos? Perfume que atrai? Perfume que chama atenção? Que enleva? Ou um
mau cheiro, apodrecido por moscas mortas que caíram na nossa panela de perfume.
Nosso perfume, nosso caráter cristão, a conduta que exibimos ao mundo atrai ou
repele? Somos o bom cheiro de Cristo. Somos o panelão de perfume de Deus.
Cuidado com as pequenas moscas mortas na nossa vida como pessoas e na vida da
Igreja porque uma mosca no perfume acaba com todo o bom cheiro.
Maravilhoso texto do pastor Isaltino, Wagner! Valeu a partilha!
ResponderExcluirObrigado meu irmão. Saudoso Rev. Isaltino (in memorian)
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