Tem sido uma disputa comum desde os tempos primórdios, a
contestação dos livros do Novo Testamento Protestante. Por motivos óbvios os
Judeus não aceitam hoje, e nem nunca aceitaram, a canonicidade do Novo
testamento, seja ele Protestante ou Católico. Se não aceitaram o Messias, não
poderiam aceitar os livros do Novo Testamento como inspirados. Felizmente, não
precisamos falar de Canon Protestante e de Canon Católico do NT, visto que
todos os ramos do cristianismo – incluindo a igreja oriental – aceitam
exatamente os mesmos vinte e sete livros, como os temos em nossas bíblias.
É claro, entretanto, que não
poderia se esperar que todos os vinte e sete livros do Novo Testamento viessem
a ser imediata e simultaneamente reconhecidos como inspirados, por todas as
igrejas, logo na época que foram escritos. De igual modo, os Judeus, contestam
a veracidade desses escritos desde os primeiros séculos da igreja, isso para
não dizer desde a Vulgata e suas disputas.
Não posso crer que, o Novo
Testamento tenha sido escrito em Hebraico originalmente, e posteriormente
traduzido para o grego. Seria contestar toda a historia do cristianismo. Porem,
farei uso de textos técnicos para defender minha posição, assim como usarei
escritos dos próprios massoretas para refutar o texto lido por mim sobre o NT
ter sido escrito em hebraico.
Dizer que os textos originais
foram escritos em hebraico, pura e simplesmente porque os apóstolos falavam
hebraico e aramaico é no mínimo irresponsável. Já que, era o período da
plenitude dos tempos, e todos falavam grego. O mundo se comunicava em grego, as
discussões mais inteligíveis eram feitas no idioma dos filósofos.
Então, ...
Falarei sobre a teoria de
Westcott e Hort para falar sobre o Novum Testamentum Graece.
A historia do texto grego
impresso no Novo Testamento pode ser dividida em três períodos. O primeiro, o
período não-critico, caracteriza-se pelo estabelecimento e padronização do
texto encontrado na grande maioria dos manuscritos usados pela igreja Antiga e
Medieval. Este texto é conhecido pelos nomes de bizantino, sírio, tradicional,
eclesiástico, ou majoritário. Este estagio da historia textual é marcado pela
aceitação incondicional do texto até então usado amplamente pela igreja.
O segundo período, conhecido como
pré-critico, cujo o inicio pode ser marcado com a edição de John Fell, em 1675,
onde neste período caracteriza-se o acumulo de evidencias textuais por parte
dos críticos, bem como a elaboração de teorias que viriam a ser aceitas e
desenvolvidas no período posterior, repudiando completamente o texto grego
majoritário do Novo Testamento. Entretanto, o texto francamente aceito pela
igreja, nesta fase, continuou sendo o Texto Receptus, pois as evidencias
textuais acumuladas contrarias a ele, não chegaram a ser aplicadas ao texto.
Nas raras vezes em que o foram, mesmo que em parte, tais textos foram
firmemente rejeitados pelo consenso da igreja.
O terceiro e ultimo período, o
período critico, começando com Lanchmann (1831) e se estendendo até os nossos
dias, caracteriza-se pelo afastamento generalizado do texto majoritário, e pelo
aparecimento de um texto eclético, baseado em um numero bastante reduzido de
manuscritos, os quais, ainda antigos, discordam bastante entre si. Esse texto
que começou com Lanchmann, teve como seus maiores defensores, Westcott e Hort,
estas são hoje, praticamente, as únicas edições do Novo Testamento grego
conhecidas acessíveis, e portanto, usadas pela grande maioria de estudantes,
teólogos, exegetas e tradutores tanto protestante como católicos nos últimos
anos.
Westcott-Hort partem da
pressuposição fundamental de que o texto do Novo Testamento trata-se de um
texto ordinário, como qualquer outro livro. Esta pressuposição por sua vez, se
fundamenta em outra: de que não houve falsificação maliciosa do texto do Novo
Testamento durante sua transmissão. Quando afirmam que o texto do Novo
Testamento é ordinário, querem dizer, com isso, que não há evidencias
históricas de interpolações ou omissões deliberadas nos seus manuscritos, o que
valida o emprego dos métodos críticos ordinários aplicados aos texto clássicos
antigos. Veja o que afirmam:
Mesmo entre as
inquestionavelmente numerosas leituras espúrias do Novo Testamento não há sinal
de falsificação deliberada do texto com propósitos dogmáticos.
Cremos que a ausência (no texto
moderno) de fraudes perceptíveis,que deram origem a qualquer das varias
leituras agora existentes, também se aplica ao texto que antecedeu mesmo as
mais antigas variantes existentes ...
Partindo dessa argumentação,
Westcott-Hort examinaram os textos na base de alguns métodos, para base de
contestação.
Método das evidencias internas
Partindo dessas pressuposições
básicas, prepararam o texto eclético, considerando as seguintes evidencias
internas: a probabilidade intrínseca e a probabilidade de transição. Em
probabilidade intriseca, eles procuraram descobrir “o que o autor parece ter
escrito.” E em probabilidade de transição, eles procuraram descobrir “o que os
copistas parecem ter feito o autor parecer escrever.”
Com base nestes princípios, duas
regras básicas foram usadas para estabelecimento do texto. Primeira: brevior lectio potior (a menor leitura
deve ser preferida), assumindo que os escribas tinham mais tendência para
incluir do que omitir. Segunda: proclivi lectione
praestat árdua (a leitura mais difícil deve ser preferia), assumindo que os
escribas eram propensos a simplificar o texto quando confrontados com algum
disparate.
O argumento da conflação
Um argumento considerado
importante na teoria, foi a afirmativa de que conflação é característica de
mistura, e que só o texto sírio as apresenta, sendo portando um texto
secundário.
O argumento da genealogia
Outro argumento considerado
chave, para derrubar a superioridade numérica do Texto Majoritario, é baseado
no conceito de genealogia de documentos. Por meio desses argumentos, eles
reduziram a grande massa de manuscritos “bizantinos” a uma família derivada de
outros manuscritos, enfraquecendo assim o peso do seu testemunho.
Agora, mesmo acreditando que o
texto do canon neo-testamentario tenha
sido escrito em grego, com exceção de Lucas, é bem provável que todos os
autores eram de precedência judaica; logo, pessoas que, embora falando e
escrevendo o grego, possuíam como língua de berço o aramaico, idioma que lhes
marcaria o modo natural de expressão, influindo no seu vocabulário e nas suas
categorias básicas de pensar, moldando-lhes também, em vasta medida, o estilo.
Daí, pode-se afirmar, com
propriedade, que o novo testamento é um livro cuja alma é hebraica, ao mesmo
tempo que o corpo é helênico, ou melhor, um texto em que o corpo semita se exibe em roupagem
grega.
Em se tratando, por exemplo, do
livro de Marcos, não há de se minimizar a base semita do léxico, na
fraseologia, no conteúdo, nas formas de expressão e nos modismos linguísticos.
Talvez, sejam essas características, que tenham levantado a hipótese de um original
aramaico ou pelo menos a existência de fontes aramaicas. De acordo com M. Black, a influencia aramaica
no grego de Marcos, em particular nas sentenças proferidas por Jesus, chama a atenção para uma coleção
aramaica de ditos, coleção essa usada por ele na redação do seu livro. Uma
outra opinião bastante difundida, é a de que o grego empregado no segundo
evangelho se caracteriza como um” grego de tradução”.
Os termos e as formas:
significativos são os seguintes: ἀββα, oriundo do aramaico aBa,
sempre acompanhado do oposto traducional – Pai.
O uso do” vav”: tanto o hebraico
quanto o aramaico se distinguem pela sequencia de orações em coordenação, ou
melhor: as inflexões sucessivas, postas lado a lado, são ligadas pela conjunção
(vav), e. Esse tipo de construção se reflete, de modo acentuado, na estilística
do evangelho conforme Marcos , pela utilização da conjunção “kaì”, em
correspondência exata ao (vav) hebraico, especialmente, em função aditiva ou
copulativa. Um exemplo típico do emprego do “vav consecutivo” em Marcos pode
ser apreciado na pericope da parábola do semeador (cf 4, 3-9)
O uso do paralelismo:
Diferencia-se a poética dos hebreus pela repetição de ideias ou termos em orações sucessivas – a
esse fenômeno se dá o nome de paralelismo. Ele ocorre não apenas em citações do
Antigo Testamento, mas ainda em expressões diretas dos próprios autores do Novo
Testamento; e, especialmente, do evangelista Marcos. Exemplo de paralelismo,
conhecido, no caso, como sinônimo (o conteúdo do primeiro membro é repetido com
outras palavras no segundo) fornece a citação de Isaias 40,3 em Marcos 1,3.
“Aprontai o caminho do Senhor, e fazei-lhe retas as veredas.”
O uso do nexo de continuação: A
fórmula de continuação, muito comum nos trechos narrativos da Septuaginta e
representado o hebraico, aconteceu
que/ocorreu.
Verifique dois desses casos:
E aconteceu que, naqueles dias,
veio Jesus de Nazaré da Galiléia e foi batizado por João no Jordão;
E uma voz ocorreu dos céus: Tu és
meu filho amado, em ti me comprazi.
Esses, e outros exemplos, podemos
encontrar no livro de M. Black, An
Aramaic Approach to the Gospel and Acts.
Concluindo, não posso crer, que
os livros do NT tenham sido escritos em hebraico, ou aramaico, e traduzidos
para o grego posteriormente, com o interesse de se omitir ou acrescentar
palavras ao texto.
Espero ter ajudado,
atenciosamente,
Marcelo Amorim
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