segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Contestação - N.T escrito em Grego - Por Marcelo Amorim



Tem sido uma disputa comum desde os tempos primórdios, a contestação dos livros do Novo Testamento Protestante. Por motivos óbvios os Judeus não aceitam hoje, e nem nunca aceitaram, a canonicidade do Novo testamento, seja ele Protestante ou Católico. Se não aceitaram o Messias, não poderiam aceitar os livros do Novo Testamento como inspirados. Felizmente, não precisamos falar de Canon Protestante e de Canon Católico do NT, visto que todos os ramos do cristianismo – incluindo a igreja oriental – aceitam exatamente os mesmos vinte e sete livros, como os temos em nossas bíblias.
É claro, entretanto, que não poderia se esperar que todos os vinte e sete livros do Novo Testamento viessem a ser imediata e simultaneamente reconhecidos como inspirados, por todas as igrejas, logo na época que foram escritos. De igual modo, os Judeus, contestam a veracidade desses escritos desde os primeiros séculos da igreja, isso para não dizer desde a Vulgata e suas disputas.
Não posso crer que, o Novo Testamento tenha sido escrito em Hebraico originalmente, e posteriormente traduzido para o grego. Seria contestar toda a historia do cristianismo. Porem, farei uso de textos técnicos para defender minha posição, assim como usarei escritos dos próprios massoretas para refutar o texto lido por mim sobre o NT ter sido escrito em hebraico.
Dizer que os textos originais foram escritos em hebraico, pura e simplesmente porque os apóstolos falavam hebraico e aramaico é no mínimo irresponsável. Já que, era o período da plenitude dos tempos, e todos falavam grego. O mundo se comunicava em grego, as discussões mais inteligíveis eram feitas no idioma dos filósofos.
Então, ...
Falarei sobre a teoria de Westcott e Hort para falar sobre o Novum Testamentum Graece.
A historia do texto grego impresso no Novo Testamento pode ser dividida em três períodos. O primeiro, o período não-critico, caracteriza-se pelo estabelecimento e padronização do texto encontrado na grande maioria dos manuscritos usados pela igreja Antiga e Medieval. Este texto é conhecido pelos nomes de bizantino, sírio, tradicional, eclesiástico, ou majoritário. Este estagio da historia textual é marcado pela aceitação incondicional do texto até então usado amplamente pela igreja.
O segundo período, conhecido como pré-critico, cujo o inicio pode ser marcado com a edição de John Fell, em 1675, onde neste período caracteriza-se o acumulo de evidencias textuais por parte dos críticos, bem como a elaboração de teorias que viriam a ser aceitas e desenvolvidas no período posterior, repudiando completamente o texto grego majoritário do Novo Testamento. Entretanto, o texto francamente aceito pela igreja, nesta fase, continuou sendo o Texto Receptus, pois as evidencias textuais acumuladas contrarias a ele, não chegaram a ser aplicadas ao texto. Nas raras vezes em que o foram, mesmo que em parte, tais textos foram firmemente rejeitados pelo consenso da igreja.
O terceiro e ultimo período, o período critico, começando com Lanchmann (1831) e se estendendo até os nossos dias, caracteriza-se pelo afastamento generalizado do texto majoritário, e pelo aparecimento de um texto eclético, baseado em um numero bastante reduzido de manuscritos, os quais, ainda antigos, discordam bastante entre si. Esse texto que começou com Lanchmann, teve como seus maiores defensores, Westcott e Hort, estas são hoje, praticamente, as únicas edições do Novo Testamento grego conhecidas acessíveis, e portanto, usadas pela grande maioria de estudantes, teólogos, exegetas e tradutores tanto protestante como católicos nos últimos anos.
Westcott-Hort partem da pressuposição fundamental de que o texto do Novo Testamento trata-se de um texto ordinário, como qualquer outro livro. Esta pressuposição por sua vez, se fundamenta em outra: de que não houve falsificação maliciosa do texto do Novo Testamento durante sua transmissão. Quando afirmam que o texto do Novo Testamento é ordinário, querem dizer, com isso, que não há evidencias históricas de interpolações ou omissões deliberadas nos seus manuscritos, o que valida o emprego dos métodos críticos ordinários aplicados aos texto clássicos antigos. Veja o que afirmam:
Mesmo entre as inquestionavelmente numerosas leituras espúrias do Novo Testamento não há sinal de falsificação deliberada do texto com propósitos dogmáticos.
Cremos que a ausência (no texto moderno) de fraudes perceptíveis,que deram origem a qualquer das varias leituras agora existentes, também se aplica ao texto que antecedeu mesmo as mais antigas variantes existentes ...

Partindo dessa argumentação, Westcott-Hort examinaram os textos na base de alguns métodos, para base de contestação.
Método das evidencias internas
Partindo dessas pressuposições básicas, prepararam o texto eclético, considerando as seguintes evidencias internas: a probabilidade intrínseca e a probabilidade de transição. Em probabilidade intriseca, eles procuraram descobrir “o que o autor parece ter escrito.” E em probabilidade de transição, eles procuraram descobrir “o que os copistas parecem ter feito o autor parecer escrever.”
Com base nestes princípios, duas regras básicas foram usadas para estabelecimento do texto. Primeira: brevior lectio potior (a menor leitura deve ser preferida), assumindo que os escribas tinham mais tendência para incluir do que omitir. Segunda: proclivi lectione praestat árdua (a leitura mais difícil deve ser preferia), assumindo que os escribas eram propensos a simplificar o texto quando confrontados com algum disparate.

O argumento da conflação
Um argumento considerado importante na teoria, foi a afirmativa de que conflação é característica de mistura, e que só o texto sírio as apresenta, sendo portando um texto secundário.
O argumento da genealogia
Outro argumento considerado chave, para derrubar a superioridade numérica do Texto Majoritario, é baseado no conceito de genealogia de documentos. Por meio desses argumentos, eles reduziram a grande massa de manuscritos “bizantinos” a uma família derivada de outros manuscritos, enfraquecendo assim o peso do seu testemunho.
Agora, mesmo acreditando que o texto do canon neo-testamentario  tenha sido escrito em grego, com exceção de Lucas, é bem provável que todos os autores eram de precedência judaica; logo, pessoas que, embora falando e escrevendo o grego, possuíam como língua de berço o aramaico, idioma que lhes marcaria o modo natural de expressão, influindo no seu vocabulário e nas suas categorias básicas de pensar, moldando-lhes também, em vasta medida, o estilo.
Daí, pode-se afirmar, com propriedade, que o novo testamento é um livro cuja alma é hebraica, ao mesmo tempo que o corpo é helênico, ou melhor, um texto em  que o corpo semita se exibe em roupagem grega.
Em se tratando, por exemplo, do livro de Marcos, não há de se minimizar a base semita do léxico, na fraseologia, no conteúdo, nas formas de expressão e nos modismos linguísticos. Talvez, sejam essas características, que tenham levantado a hipótese de um original aramaico ou pelo menos a existência de fontes aramaicas.  De acordo com M. Black, a influencia aramaica no grego de Marcos, em particular nas sentenças proferidas por  Jesus, chama a atenção para uma coleção aramaica de ditos, coleção essa usada por ele na redação do seu livro. Uma outra opinião bastante difundida, é a de que o grego empregado no segundo evangelho se caracteriza como um” grego de tradução”.
Os termos e as formas: significativos são os seguintes: ἀββα, oriundo do aramaico aBa, sempre acompanhado do oposto traducional – Pai.
O uso do” vav”: tanto o hebraico quanto o aramaico se distinguem pela sequencia de orações em coordenação, ou melhor: as inflexões sucessivas, postas lado a lado, são ligadas pela conjunção (vav), e. Esse tipo de construção se reflete, de modo acentuado, na estilística do evangelho conforme Marcos , pela utilização da conjunção “kaì”, em correspondência exata ao (vav) hebraico, especialmente, em função aditiva ou copulativa. Um exemplo típico do emprego do “vav consecutivo” em Marcos pode ser apreciado na pericope da parábola do semeador (cf 4, 3-9)
O uso do paralelismo: Diferencia-se a poética dos hebreus pela repetição  de ideias ou termos em orações sucessivas – a esse fenômeno se dá o nome de paralelismo. Ele ocorre não apenas em citações do Antigo Testamento, mas ainda em expressões diretas dos próprios autores do Novo Testamento; e, especialmente, do evangelista Marcos. Exemplo de paralelismo, conhecido, no caso, como sinônimo (o conteúdo do primeiro membro é repetido com outras palavras no segundo) fornece a citação de Isaias 40,3 em Marcos 1,3.
“Aprontai o caminho do Senhor, e fazei-lhe retas as veredas.”
O uso do nexo de continuação: A fórmula de continuação, muito comum nos trechos narrativos da Septuaginta e representado o hebraico, aconteceu que/ocorreu.
Verifique dois desses casos:
E aconteceu que, naqueles dias, veio Jesus de Nazaré da Galiléia e foi batizado por João no Jordão;
E uma voz ocorreu dos céus: Tu és meu filho amado, em ti me comprazi.

Esses, e outros exemplos, podemos encontrar no livro de M. Black, An Aramaic Approach to the Gospel and Acts.

Concluindo, não posso crer, que os livros do NT tenham sido escritos em hebraico, ou aramaico, e traduzidos para o grego posteriormente, com o interesse de se omitir ou acrescentar palavras ao texto.
Espero ter ajudado, atenciosamente,
Marcelo Amorim

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